Figura 1 - Zélio de Moraes |
No final de 1908, uma família tradicional de São Gonçalo, cidade próxima a Niterói, foi apanhada de surpresa por fatos considerados sobrenaturais: o jovem Zélio Fernandino de Moraes, na época com 17 anos de idade, se preparava para ingressar na Marinha como aluno da Escola Naval, quando começou a sofrer estranhos “ataques”. Esse mal estar físico e psíquico era caracterizado por posturas de um velho, falando coisas desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época, ou, por vezes, assumindo uma forma física que lembrava um felino lépido e desembaraçado, que parecia conhecer todos os segredos da natureza.
Como esse estado de coisas foi se agravando, a família recorreu ao Dr. Epaminondas de Moraes, médico da família e tio de Zélio, que era diretor da “Colônia de Alienados” em Vargem Alegre. Após examiná-lo e observá-lo durante vários dias, reencaminhou-o à família, dizendo que a loucura não se enquadrava em nada do que ele havia conhecido. Foi além, ponderando que melhor seria encaminhá-lo a um padre, pois o garoto mais parecia estar endemoniado. Como acontecia com quase todas as famílias importantes da época, também havia na família Moraes um sacerdote católico. Através desse padre, outro tio de Zélio, foi realizado um exorcismo sem o sucesso, pois os chamados “ataques” prosseguiam apesar de tudo.
Depois de algum tempo, Zélio sofreu alguns dias de uma espécie de paralisia que o prendeu à cama. Sua mãe acabou por levá-lo a uma benzedeira, que, segundo relatos, era médium de um Espírito chamado Tio Antônio.
Finalmente alguém teria sugerido que “isso era coisa de espiritismo”, pois aqueles fenômenos estariam ligados a manifestações de entidades sobrenaturais, e que seria por bem levá-lo à Federação Espírita de Niterói, município vizinho à São Gonçalo, onde residia a família Moraes. Segundo relatos, a Federação era dirigida por José de Souza, pois era presumido que.
“...Vim para criar uma nova religião, baseada no Evangelho de Jesus e que terá como seu maior mentor o Cristo...” (Caboclo das Sete Encruzilhadas)
14 DE NOVEMBRO DE 1908
Segundo a Sra. Zélia de Moraes Lacerda, filha de Zélio de Moraes, Zélio se encontrava muito doente, acamado. Sua mãe o levou a uma rezadeira, uma senhora negra chamada Eva, que residia na Rua São José e recebia um Preto Velho chamado Tio Antônio. De repente, Zélio se levanta, “se alceia quase da cama” e diz com uma voz que não era sua que “o aparelho” estaria curado no dia seguinte.
Essa narrativa está documentada em gravação efetuada em 1992 (fita nº.45, aos 07 minutos e 30 segundos). D. Zélia faz questão de dizer que “a Umbanda nasceu na humilde casa de uma preta, lá na Rua São José...”
Assim, foi na casa da rezadeira Eva, em 14 de novembro de 1908, que ocorreu a primeira manifestação mediúnica de um Guia Espiritual em Zélio, com comunicação, dizendo que no outro dia Zélio estaria curado. Não se sabe qual Espírito era, mas possivelmente poderia ser o próprio Pai Antônio, que era um dos Guias Espirituais de Zélio.
Cabe esclarecer, para evitar que se confumdam as entidades de D. Eva,a benzedeira, e de Zélio. Na época da escravidão, quando os negros aportavam no Brasil, todos eram batizados pelo clero e recebiam o nome do Santo do dia, do padroeiro ou de devoção. Portanto, possivelmente, em vida, a entidade espiritual que atuava por D. Eva, Tio Antônio, tinha um irmão, que também foi chamado de Antônio, que viria a trabalhar com Zélio.
Portanto, a primeira manifestação mediúnica com comunicação de um Guia Espiritual em Zélio de Moraes ocorreu na casa da rezadeira Eva e não na Federação Espírita de Niterói, como veremos mais adiante, que foi a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Com certeza mais alguma revelação deve ter sido feita no dia 14 de novembro pelo tal Espírito, mas somente a mãe de Zélio, que estava presente, poderia nos dizer. Por isso, o dia 14/11/1908 é considerado pelas filhas de Zélio de Moraes como a data formal do nascimento da Umbanda. Se elas assim achavam, com certeza o próprio Zélio teria dito isso.
A anunciação formal da Umbanda se deu na primeira sessão, em casa de Zélio, no dia 16/11/1908 e não no dia 15/11/1908, como veremos a seguir.
15 DE NOVEMBRO DE 1908
Zélio foi convidado a participar da sessão espírita kardecista que se daria na Federação Espírita de Niterói. No início da sessão, José de Souza determinou que Zélio tomasse lugar à mesa. Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, Zélio levantou-se e disse: “Aqui está faltando uma flor”. Saiu da sala indo ao jardim e voltando logo após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Esta atitude causou um enorme tumulto entre os presentes, principalmente porque, ao mesmo tempo em que isso acontecia, ocorreram surpreendentes manifestações de Índios e Pretos Velhos em todos os médiuns da mesa de trabalho.
O diretor da sessão achou aquilo tudo um absurdo e os advertiu com aspereza, citando o “seu atraso espiritual” e os convidando a se retirarem. Estava caracterizada, a partir daquele momento, o preconceito espiritual que, infelizmente, perdura até os dias de hoje.
Novamente, aquela força estranha tomou o jovem Zélio e através dele um Espírito falou:
“Por que repeliam a presença dos citados Espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?”
A essa admoestação da entidade, que atuava através de Zélio, reagiram em
Figura 2 - Caboclo das 7 Encruzilhadas |
grande confusão, todos querendo se explicar, desenvolvendo-se acalorados debates doutrinários. Porém, a entidade “resoluta” mantinha-se firme em seus pontos de vista. Eis que um vidente pediu que a Entidade se identificasse, já que havia notado que irradiava uma luz positiva. Zélio permanecia mediunizado e, através dele, o Espírito respondeu:
“Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque, para mim, não haverá caminhos fechados”.
O vidente interpelou a entidade dizendo que ele se identificava como um índio, mas que via nele restos de trajes sacerdotais. A entidade respondeu então:
Figura 3 - Gabriel de Malagrida |
“O que você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre jesuíta e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição, em Lisboa, no ano de 1761. Mas, em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como Caboclo brasileiro”.
Logo após se identificar, usando Zélio, anunciou o tipo de missão que trazia do astral: fixar as bases de um culto, no qual todos os Espíritos de Caboclos e Pretos-Velhos poderiam executar as determinações do Plano Espiritual. Disse ainda que, no dia seguinte (16 de novembro de 1908), se manifestaria na residência do médium, às 20h00min, e fundaria uma Tenda Espírita que falaria aos pobres, humildes, doentes, necessitados do corpo da alma, onde haveria igualdade para todos, encarnados e desencarnados. Assim falou o Caboclo:
“Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”
E ainda foi guardada a seguinte frase, que a entidade pronunciou no final:
“Levarei daqui uma semente e vou plantá-la nas Neves (bairro onde o médium morava) onde ela se transformará em árvore frondosa”.
Durante o desenrolar da entrevista, entre muitas outras perguntas, o vidente teria perguntado se já não bastariam as religiões já existentes e fez menção ao Espiritismo. O Caboclo respondeu da seguinte forma:
“Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte. Mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?”.
Ao final, o vidente fez a seguinte pergunta: pensa o irmão que alguém irá assistir o seu culto? Ao que o Caboclo respondeu:
“Cada colina de Niterói atuará como porta-voz anunciando o culto que amanhã iniciarei”.
16 DE NOVEMBRO DE 1908 - A PRIMEIRA SESSÃO
Zélio de Moraes, em 1975, com 83 anos de idade, na tranquilidade do sítio em que residia em Cachoeiras de Macacú (Boca do Mato), no interior do Estado do Rio de Janeiro, relatou o que ocorreu no dia seguinte, 16 de novembro de 1908, à repórter e dirigente de Umbanda, Srª Lilia Ribeiro:
“Minha família estava apavorada. Eu mesmo não sabia explicar o que se passava comigo. Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça branca, em volta de uma mesa onde se praticava um trabalho, para mim desconhecido. Como poderia, aos 17 anos, organizar um culto? No entanto, eu mesmo falara, sem saber o que dizia e porque dizia. Era uma sensação estranha: uma força superior que me impelia a fazer e a dizer o que nem sequer se passava pelo meu pensamento.
E no dia seguinte, em casa de minha família, na Rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, ao se aproximar à hora marcada – 20h00min – já se reuniam os membros da Federação Espírita, seguramente para comprovar a veracidade do que fora declarado na véspera; os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e, do lado de fora, grande número de desconhecidos. Às 20h00min, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava, naquele momento, um novo culto em que os Espíritos dos velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos da nossa terra, poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus e como Mestre Supremo o Cristo.”
Em seguida, o Caboclo fez uma série de revelações sobre o que estava à espera da humanidade:
“Este mundo de iniquidades mais uma vez será varrido pela dor, pela ambição do homem e pelo desrespeito às leis de Deus. As mulheres perderão a honra e a vergonha, a vil moeda comprará caracteres e o próprio homem se tornará efeminado. Uma onda de sangue varrerá a Europa[1] e, quando todos acharem que o pior já foi atingido, uma outra onda de sangue, muito pior do que a primeira, voltará a envolver a humanidade[2]”.
Figura 4 - Casa de Zélio onde Nasceu a Umbanda |
No final da reunião, o Caboclo ditou certas normas para a sequência dos trabalhos, especialmente a que o atendimento seria absolutamente gratuito.
Ao novo tipo de culto que se iniciou naquela noite, o Caboclo das Sete Encruzilhadas deu o nome de “UMBANDA”, que seria “a Manifestação do Espírito para a Caridade”. Posteriormente, reafirmou à Leal de Souza que “Umbanda era uma Linha Branca de Demanda para a Caridade”. Deve-se ressaltar que, inicialmente, o Caboclo chamou o novo culto de “Alabanda”.
Também no dia 16 de novembro de 1908, foi fundada uma Tenda com o nome “Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade”, porque, segundo as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas:
“Assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolheria aos que a ela recorressem nas horas de aflição”.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas disse ainda o seguinte:
“Todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles Espíritos que souberem mais e ensinaremos àqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é à vontade do Pai”.
Ditadas as bases do culto, após responder, em latim e em alemão, às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou à parte prática dos trabalhos, curando enfermos e chegando a fazer andar um paralítico.
Antes do término da sessão, manifestou-se um Preto-Velho, Pai Antônio, que vinha completar as curas. De fala mansa e muito humilde, com uma atitude que aparentava timidez, mas falando com muita sabedoria. Ele se recusava a sentar à mesa e dizia:
“Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá.”
Diante da insistência de alguns, repetiu:
“Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego.”
Um dos presentes perguntou a Pai Antônio se ele sentia falta de algo que havia deixado na terra, ao que respondeu:
“Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca.”
Era a primeira manifestação de uma Entidade Espiritual que solicitava uma ferramenta física de trabalho.
Nos dias seguintes, verdadeira romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos, paralíticos vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais.
PAI ANTÔNIO
Figura 5 - Pai Antônio |
Como já descrevemos, na noite de 16 de novembro de 1908, manifestou-se Pai Antônio, um portento de sabedoria e de força espiritual.
Quando essa entidade se manifestou, parecia estar pouco à vontade frente a tanta gente e que, se recusando permanecer na mesa onde se dera à incorporação, procurava passar despercebido, humilde, aparentando alta idade e apresentando o corpo curvado, o que dava ao jovem Zélio um aspecto estranho, quase irreal. Essa entidade logo despertou profundo sentimento de carinho e bem estar entre os presentes.
Logo na primeira manifestação desse Espírito Iluminado, demonstrou imensa humildade e uma capacidade de comunicação com os mais simples, usando uma linguagem popular e carinhosa.
A atitude desse sábio Guia Espiritual tinha a finalidade principal de incutir, desde o início, a humildade nos presentes. Procurava, assim, demonstrar que se contentava em ocupar um lugar mais singelo, mostrando que poderia se adaptar a qualquer situação, e que os futuros Terreiros de Umbanda não precisavam ser palácios e fortalezas de mármore e ouro. A tentativa de transmitir a humildade continuou através de respostas bem simples e que não mostravam a real condição espiritual e sabedoria desse valoroso enviado do Astral Superior.
Perguntado como havia sido sua morte física, disse que havia ido à mata apanhar lenha, sentiu alguma coisa estranha, sentou-se e nada mais se lembrava. Foi o primeiro Guia Espiritual que solicitou um componente material para realizar seu trabalho: um cachimbo, ou sua “cachimba” que ele tinha esquecido “no tôco”, como ele mesmo disse.
Isso causou grande espanto nos presentes, pois o espírito é imaterial e, portanto, era contraditório imaginar que precisaria da matéria para fazer seu trabalho. Era uma forma de introduzir o ato de fumar cachimbo pelos Pretos-Velhos incorporados, o que nós bem sabemos hoje que é feito para benefício dos médiuns e consulentes, e não dos Guias. Essa passagem inspirou um dos pontos cantados de Pretos-Velhos:
“Meu cachimbo está no toco manda moleque busca;
No alto da derrubada meu cachimbo ficou lá;
Que arruda tão bonita que Vovó mandou arrancar;
Mas não chore meu netinho que Vovó manda plantar”.
Do mesmo modo, os Caboclos também passaram a usar com a mesma finalidade, cachimbos e charutos. O ponto a seguir mostra uma das principais características de Pai Antônio, que eram suas curas. Uma das suas principais ordens e direitos era a cura espiritual dos consulentes merecedores. Pai Antônio mostrou em muitas ocasiões que conhecia medicina e chegou até a “debater” várias vezes com alguns médicos.
“Dá licença, Pai Antônio que eu não vim lhe visitar;
Eu estou muito doente, vim prá você me curar.
Se a doença for feitiço pulará em seu Congá.
Se a doença for de Deus ai: Pai Antônio vai curar.
Coitado de Pai Antônio; Preto Velho curador;
Foi parar na detenção ai; por não ter um defensor;
Pai Antônio é kimbanda, é curador;
Pai Antônio é kimbanda, é curador;
É pai de mesa, é curador;
É pai de mesa, é curador”.
O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS
Para podermos compreender a elevação deste espírito, reproduziremos a seguir, na íntegra, o capítulo XXIII do livro “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda” do escritor Leal de Souza.
Leal de Souza era um pesquisador muito sério do Espiritismo e também muito ligado à Tenda Nossa Senhora da Piedade e ao Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Se alguma vez tenho estado em contato consciente com algum espírito de luz, esse espírito é, sem dúvida, aquele que se apresenta sob o aspecto agreste e o nome bárbaro de Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Sentindo-o ao nosso lado, pelo bem estar espiritual que nos envolve, pressentimos a grandeza infinita de Deus e, guiados pela sua proteção, recebemos e suportamos os sofrimentos com uma serenidade quase ingênua, comparável ao enlevo das crianças, nas estampas sacras, contemplando, da beira do abismo, sob as asas de um anjo, as estrelas no céu.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas pertence à falange de Ogum, e, sob a irradiação da Virgem Maria, desempenha uma missão ordenada por Jesus. O seu ponto emblemático representa uma flecha atravessando um coração, de baixo para cima. A flecha significa direção, o coração, sentimento, e o conjunto, orientação dos sentimentos para o alto, para Deus.
Estava este espírito no espaço, no ponto de intersecção de sete caminhos, chorando sem saber o rumo a tomar, quando lhe apareceu, na sua inefável doçura, Jesus, que mostrando-lhe uma região da Terra, as tragédias da dor e os dramas da paixão humana, indicou-lhe o caminho a seguir, como missionário de consolo e redenção. Em lembrança desse incomparável minuto de sua eternidade e para se colocar no nível dos trabalhadores mais humildes, o mensageiro de Cristo tirou seu nome do número dos caminhos que o desorientavam, ficou sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Iniciou, assim, a sua cruzada, vencendo, na ordem material, obstáculos que se renovam quando vencidos e dos quais o maior é a qualidade das pedras com que se deve construir o novo templo. Entre a humildade e a doçura extremas, a sua piedade se derrama sobre quantos o procuram e, não poucas vezes, corre pela face do médium as lágrimas que expressam a sua tristeza, diante dessas provas inevitáveis das quais as criaturas não podem fugir.
A sua sabedoria se avizinha da onisciência. O seu profundíssimo conhecimento da Bíblia e das obras dos doutores da igreja autorizam a suposição de que ele, em alguma encarnação, tenha sido sacerdote, porém a medicina não lhe é mais estranha do que a teologia.
Acidentalmente, o seu saber se revela. Uma ocasião para justificar uma falta por esquecimento de um de seus auxiliares humanos, explicou, minucioso, o processo de renovação das células cerebrais, descreveu os instrumentos que servem para observá-las e contou numerosos casos de fenômenos que os atingiram e como foram tratados na Grande Guerra escrita em 1914. Também, para fazer os seus discípulos compreenderem o mecanismo dos sentimentos, se assim posso expressar-me, explicou a teoria das vibrações e a dos fluidos e, numa ascensão gradativa, na mais singela das linguagens, ensinou a homens de cultura desigual as transcendentes leis astronômicas. De outra feita, respondendo a consulta de um espírita que é capitalista em São Paulo e representa interesses europeus, produziu um estudo admirável da situação financeira para a França, pela quebra do padrão ouro na Inglaterra.
A linguagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas varia, de acordo com a mentalidade de seu auditório. Ora chã, ora simples, sem nenhum atavio, ora fulgurante nos arrojos da alta eloquência, nunca desce tanto, que se abastarde, nem se eleva demais, que se torne inacessível.
A sua paciência de mestre é, como sua tolerância de chefe, ilimitada. Leva anos a repetir, em todos os tons, por meio de parábolas, de narrativas, o mesmo conselho, a mesma lição, até que o discípulo depois de tê-lo compreendido comece a praticá-lo.
A sua sensibilidade ou perceptibilidade é rápida, surpreende. Resolvi, certa vez, explicar os dez mandamentos da lei de Deus para meus companheiros e, à tarde, quando me lembrei da reunião da noite, procurei, concentrando-me, comunicar-me com o missionário de Jesus, pedindo-lhe uma sugestão, uma ideia, pois não sabia como discorrer sobre o mandamento primeiro. Ao chegar à tenda, encontrei o seu médium, que viera apressadamente das Neves, do município de São Gonçalo, por uma ordem recebida à última hora, e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, baixando em nossa reunião, discorreu espontaneamente sobre aquele mandamento. Concluindo disse-me: Agora, nas outras reuniões, podeis explicar aos outros como é o vosso desejo.
E esse caso se repetiu: - Havia a necessidade de falar sobre as Sete Linhas de Umbanda e, incerto sobre a de Xangô, implorei mentalmente, o auxílio desse espírito, e, de novo, o seu médium, por ordem de última hora, compareceu à nossa reunião, na qual o grande guia esclareceu, numa locução transparente, as nossas dúvidas sobre essa linha.
A primeira vez em que os videntes o vislumbraram, no início de sua missão, ele se apresentou como um homem de meia idade, a pele bronzeada, vestindo uma túnica branca, atravessada por uma faixa que brilhava, em letras de luz, a palavra “CARITAS”. Depois, e por muito tempo, só se mostrava como caboclo, utilizando tanga de plumas e demais atributos dos pajés silvícolas. Passou, mais tarde, a ser visível na alvura de sua túnica primitiva, mas há anos acreditamos que só em algumas circunstâncias se reveste de forma corpórea, pois os videntes não o vêem, e quando a nossa sensibilidade e outros guias assinalam a sua presença, fulge no ar uma vibração azul e uma claridade dessa cor paira no ambiente.
Para dar desempenho à sua missão na Terra, o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou quatro tendas em Niterói e nesta cidade, e, outras fora das duas capitais, todas da Linha Branca da Umbanda e Demanda.
Quando o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporava, cantava-se o seguinte ponto:
“Chegou, chegou, chegou com Deus.
“Chegou, chegou, o Caboclo das Sete Encruzilhadas”.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas trabalhou incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.
Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda, que receberam os seguintes nomes:
Essas Tendas foram as sementes que deram origem a dezenas de milhares de Tendas de Umbanda.
[1] O Caboclo se referia à 1ª Guerra Mundial, que se iniciou em 1914 (Nota do autor).
[2] O Caboclo agora se refere à 2ª Guerra Mundial, que se iniciou em 1939 (Nota do autor).
Avenida Nicanor Reis, 1200 Bairro Jardim Torrão de Ouro São José dos Campos - SP
ATENDIMENTO - Terças-Feiras das 19:00 - 21:30 (Os portões abrem as 18:30 e fecham as 20:30) DESENVOLVIMENTO - Quintas-Feiras das 18:30 - 21:30 (só trabalhadores da casa)
Email: contato@tuctvc.com
(12) 3944-4007
(Não atende ligações)