Entende-se que a Umbanda, enquanto religião, é nova e é brasileira. Está fundamentada em Deus, na crença na existência dos Poderes Reinantes do Divino Criador, conhecida por todos como Orixás, cujo conhecimento inicial nos legaram os cultos afros; assim como no conhecimento, respeito e uso dos elementos da Natureza legados pelos Pajés; e calcada na fenomenologia mediúnica ensinada na Codificação Espírita.
Além disso, a Umbanda se apóia nas orientações de alguns Espíritos militantes no movimento Kardecista, nas práticas esotéricas Orientais e Ocultistas e na crença em Nosso Senhor Jesus Cristo, na Mãe Maria Santíssima, nos Anjos e em alguns Santos legados pelo catolicismo popular. Tentar dar à Umbanda, como ela é praticada atualmente, uma origem diferente dessa nova religião, é faltar com o bom senso. Tudo surgiu timidamente nas práticas da pajelança indígena e nos vários cultos afros vindos com os escravos.
No início do século XX, já era popular e se espalhava por muitos rincões do Brasil, mas sem a nomenclatura de Umbanda. Estava sendo efetuado um ensaio de sua manifestação, bem com uma arregimentação de Espíritos dispostos à prática da caridade. O que realmente aconteceu é que já ocorriam as manifestações mediúnicas de Espíritos regionalizados, mas não havia ainda surgido o nome Umbanda e os seus postulados. Os rituais ainda eram praticados de maneira confusa e deturpados. Foi quando, por misericórdia Divina, através da mediunidade de um “jovem”, foi enviado um índio brasileiro para sanear o já existente e formar, a partir daí, as bases de um novo culto, estruturando-o e divulgando-o como religião para todos, especialmente para a população carente, que era excluída dos cultos kardecistas.
Os mais humildes normalmente não tinham acesso aos “espíritos elevados” (segundo alguns kardecistas da época), pois a forma como a mediunidade popular era praticada espantava os mais cultos e estudiosos, que viam naquelas manifestações mediunismos voltados ao atraso espiritual (baixo espiritismo). Além disso, muitas práticas mediúnicas populares eram sedimentadas em feitiçarias com fins pecuniários e manifestações medianímicas consideradas rústicas e primitivas pelos espíritas kardecistas.
O catolicismo, religião de predominância, repudiava a comunicação com os mortos. Já os praticantes da doutrina kardecista no Brasil aceitavam e reverenciavam como nobres apenas as comunicações de espíritos que usavam linguagem catedrática e rebuscada. O Candomblé, por sua vez, segundo o antropólogo Reginaldo Prandi, surgiria no Rio de Janeiro como religião estruturada somente na década de 1930 e não aceitava a incorporação de Eguns. O termo Egun ou Egum é uma palavra da língua Yorubá, que era falada em algumas regiões da África e que é muito usada no Candomblé. O termo significa Alma ou Espírito de qualquer pessoa falecida, iniciada ou não. O termo Egum é muito abrangente e pode se referir desde um Espírito considerado de luz ou de um parente, até um Espírito desorientado ou obsessor que precisa ser afastado.
Deus, por misericórdia, atento ao cenário existente, ordenou que se estruturasse aquela que seria uma religião mediúnica, aberta a todos os espíritos de boa vontade que quisessem praticar a caridade, independentemente das origens terrenas em outras encarnações e de suas religiosidades. Esses espíritos voluntários atuariam também para que se pudesse dar um freio ao radicalismo mediúnico magístico negativo existente na época e aos que surgiriam futuramente no Brasil. Começou a se plasmar, então, a Religião de Umbanda, com suas hierarquias, bases, atributos, atribuições, funções e finalidades.
Enquanto isso, no plano terreno, é publicado no ano de 1904 o livro “Religiões do Rio”, de autoria de “João do Rio”, pseudônimo de Paulo Barreto, membro emérito da Academia Brasileira de Letras. Neste, o autor faz um estudo sério e inequívoco das religiões e seitas existentes no Rio de Janeiro, que era, na época, capital federal e centro social, político e cultural do Brasil. O escritor, no intuito de levar ao conhecimento da sociedade os vários segmentos de religiosidades que se desenvolviam no então Distrito Federal, percorreu Igrejas, Templos, locais de feitiçarias, Macumbas, sessões baseadas na tradição africana, Sinagogas e outros, entrevistando pessoas e testemunhando fatos. Não obstante tal obra ter sido pautada em profundas pesquisas, em nenhuma página desta respeitosa edição cita-se o vocábulo Umbanda, pois tal terminologia era ainda desconhecida.