Pontos cantados
Os pontos cantados são evocações, uma forma cantada de oração que aproxima o poder dos Orixás e a força dos guias ou da linha de trabalho.
O canto sempre esteve muito associado com religião, e não é à toa que quase todas possuem sua manifestação. O mantra hinduísta ou budista, o louvor do muçulmano, o canto gregoriano dos católicos ou os hinos dos evangélicos. Enfim, as manifestações musicais sempre se fizeram presentes nas atividades religiosas. O ser humano canta para atrair a atenção de Deus ou de divindades. São Francisco de Assis dizia que “quem canta reza duas vezes”.
Na Umbanda temos o ponto cantado como manifestação lírica. Os pontos contam histórias das entidades ou Orixás, realçam suas qualidades ou simplesmente evocam o auxílio deles. Para que o ponto cantado cumpra sua função é necessário que a letra seja condizente com o verdadeiro valor dos Orixás e entidades de luz da nossa sagrada religião.
Temos no Hino da Umbanda o maior exemplo de evocação de boas energias e altruísmo. Deixo esse exemplo como referência de qualidade. Podemos cantar pontos nos trabalhos espirituais, em obrigações e ofertas, ou mesmo quando queremos requisitar a presença daquela entidade ou Orixá para o nosso auxílio. Cantar os pontos durante os trabalhos demonstra sabedoria, alegria e fé. É a verdadeira conexão com as forças da Umbanda.
O atabaque, também utilizado em algumas casas de Umbanda, junto com o ponto cantado, é um instrumento musical. Esse instrumento consiste em um cilindro de madeira, tendo uma das bocas fechada por couro de boi, veado ou bode, podendo ser cônico ou não. A palavra atabaque vem do árabe “al tabaq” que significa “prato”. Constitui, na verdade, um caminho entre os homens e os Orixás, sendo os toques como um código de acesso para o mundo espiritual.
Normalmente os atabaques em um terreiro são três, sendo cada um de um tamanho diferente. O maior é o Rum que emite som grave, o médio é o Rumpi que emite sons médios e o menor é o Lê, que emite os sons mais agudos. No atabaque Rum fica o Ogã chefe, o responsável pela condução dos trabalhos da curimba, no Rumpi fica um Ogã experiente e no Lê um Ogã iniciante. Essa configuração pode mudar de terreiro para terreiro de acordo com a doutrina seguida. Mas uma coisa é comum a todos, o Ogã chefe deve conhecer todos os trabalhos da casa, sabendo perfeitamente o que e quando tocar, muitas vezes tendo autonomia para tocar quando necessário. É indiscutível que um trabalho de Umbanda com o fundamento do atabaque tem uma energia totalmente diferente e melhor. O som do tambor auxilia na estabilidade energética do trabalho e na chegada e partida das entidades.